quarta-feira, 14 de abril de 2010

Visita à vovó

Minhas avós são irmãs. Isso mesmo. E adivinha?
Meus pais são primos legítimos.

Minhas avós são tão diferentes! Em características típicas de avós, em comportamento, em fisionomia, aliás, minhas avós são tão diferentes que quase me esqueço de que são irmãs. Mas era facinho de lembrar, bastava ver painho chamando a mãe de mainha de tia e mainha idem com a mãe de painho. Além disso, sempre tem aquelas histórias deliciosas sobre passeios e festas em que os irmãos de vovó(s) as levavam pelo sertão, de lambreta, para as festas que duravam a noite inteira; também adoro as histórias sobre namorados que não tinham permissão para beijar e de meu bisavô sentado na sala com os duas e seus distintos.


Adoro a mãe de mainha contando sobre andar a cavalo sentada de lado, adoro histórias sobre tempos sem geladeira, sem ar condicionado, sobre quando o tempo escorria lento, sobre quando a vida tinha tempo.
Ambas minhas avós viveram intensamente. Tempos fáceis e dificílimos estiveram em suas vidas.

A mãe de painho, que já foi desta para melhor, morreu no quarto que durmo hoje, da forma como queria, calmamente, sem tubos de oxigênio, sem lençol branco e impessoal com nome de hospital. Morreu bem velhinha. Eu também gostaria de ir assim (bem velhinha, claro), sem solidão, sem impessoalidade, sem medos bobos, naturalmente, cercada de gente que se preocupou comigo.
Essa minha vó sempre tratou bem os netos. Era durona. As vezes sorridente, muitas vezes impessoal. Vivia voltada mais para o seu mundo. Viveu sua vida. Nos recebia cordialmente, os netos, mas sempre senti que só os filhos dela atingiam verdadeiramente o seu coração.
Vovó, um grande abraço. De sua neta que te quer bem.

A mãe de mainha, minha vó que fui visitar hoje, ah, vovó! Digo sempre que o que envelheceu em vovó foi só o corpo, a cabeça, se pudesse ser transplantada para um corpo jovem, vixe Maria, ia dar um trabalho!
Essa vovó chegou mais perto de nós, os netos.
É daquelas pessoas que não te deixam indiferente: uma hora você ama, noutra (poucas) tem raiva, num momento você leva um fora inesperado, noutro você fica super feliz com um elogio.
Essa minha vovó participa da nossa vida, e isso faz toda a diferença! E que fique bem claro que não estou desmerecendo a irmã dela, minha outra vó.
Na casa dessa vó sempre havia almoços familiares imensos, regados a piadas, a um mundo de comidas, a gente sorrindo da vida, pela vida, zonando das dificuldades, reforçando laços familiares, fofocando, se divertindo. Almoços maravilhosos!
Sobre essa vó, passei um tempo sem visitá-la, é verdade, mas é que eu andava cismada de que ela perguntaria inevitavelmente sobre ter passado ou não num concurso... então, para evitar a cobrança dela e a minha comigo, evitei.
Hoje, minha tia enviou mensagem dizendo que os exames de vovó indicam que sua função renal piorou (em breve terá que fazer hemodiálise), dizia que vovó estava baixo astral, pedia que a visitássemos.
E eu fui. Aproveitei para dizer que tinha ido para contar oficialmente a notícia do concurso.
Foi tão bom!!!
Depois de se queixar, lamentar e me contar sobre suas dores e doenças (o que é necessário ouvir para aliviá-la), foi um delícia ver minha vó surgir de novo com suas histórias. Sempre me lembram as histórias dos romances de banca de revista. Adoro.
Foi delicioso redescobrir vovó. A que eu adoro, a que eu não adoro, a que eu não queria ver, a que eu adorei ver.
Ela soube se fazer presente em nossas vidas. Suas característica boas e também as ruins jamais se fizeram indiferente. E isso a faz muito, muito querida.
Força, vovó. Estamos aqui.

Acho arretado isso da minha família encarar a velhice com compaixão, com uma certa serenidade, sem deixar o velho entregue a terceiros, como um estorvo a ser tratado.
Foi necessário hospital? pode até ter uma secretária para revezar, mas tem que ter gente da família se revezando e quem for, vá disposto a conversar se vovó assim o desejar.
Detesto ver gente tratando velho como retardado:
- Vamos tomar a sopinha, dona fulana? a sopinha está gostosa!
E a maioria fala com os velhos muito alto e de forma infantil.
Gente, velho é só velho! Continua sendo gente, adulto, igual a mim, igual a você.

Painho sempre me disse um frase com a qual concordo plenamente: os velhos da nossa família, nós cuidamos.

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