sexta-feira, 10 de junho de 2011

Quinta à noite



Ontem à noite aconteceu um momento interessante:
Cheguei da hidro e fui colocar o cadeado no portão. Soltei meus cachorros e brinquei com eles.
Quando levantei o rosto havia um homem alto olhando para mim, colado no portão.
Ele disse:
- Sabe se tem alguma casa para alugar por aqui?
Hora, eram quase nove da noite, e apesar de não ter cara de bandido, tinha um rosto bonito e olhos azuis, eu tive medo. E respondi:
- Não, não sei dizer, não vi nenhuma.
Ele fez a mesma pergunta de novo, como se não tivesse escutado o que eu disse.
E eu, cismada, respondi a mesma coisa, que não tinha visto e que não sabia ( e pensando, se esse cara puxar uma arma e me mandar entrar em casa com ele?).
Então ele disse:
- Você é portuguesa?
E eu:
- hum hum (negando com a cabeça).
E ele:
- Mas você é daqui de ... mesmo?
E eu:
- hurrum (afirmando com a cabeça, e olhe que nem sou).
E ele:
-Posso saber o seu nome?
E eu:
- Nãão.
Ele fez uma cara entre " eu entendo" e "fiquei chateado", baixou a vista e foi embora.
E eu, com cara de boba, entrei rápido dentro de casa.
Depois do medo, me veio a sensação de que preciso acordar de novo pra mim.
Esse encontro esquisito fez bem ao meu ego.
Sei que sou amada e que amo, mas sentir que alguém que sequer me conhece me acha bonita (sem que o amor por mim interfira a meu favor), me fez bem.

Sou serena, bem-humorada e tranquila, pelo menos é essa impressão que acho que os outros tem de mim.
Até para meu noivo, e mesmo para minha filha, acho que na maioria das vezes sou assim.
Consigo enganar até a mim mesma de que quase sempre me sinto assim.
Isso só não é possível quando durmo, aí, todos os monstros guardados e esquecidos no armário dos medos aparecem e dominam o ambiente. Não que eles não possam ser colocados de volta no devido lugar com pensamentos racionais, e isso dá um trabalho danado, mas ainda bem que é possível.
Ontem à noite, sonhei com um monte de coisas e que para variar não lembro mas, de novo, um sonho importante eu lembro quase todo.
Há muitos anos namorei um homem que foi importante na minha vida, menos por ele mesmo e mais pelo que significou namorar de novo depois quase oito anos me escondendo da vida, sendo só mãe, sentindo culpa por minha filha não ter um pai presente.
Esse homem, esse namorado, chegou seguro e decidido. E eu precisava muito disso para me reafirmar como mulher (e não apenas como mãe).
Foi uma época em que eu estava começando a querer voltar à vida. E nós dois precisávamos de provar algo.
Eu, de provar que era capaz de me apaixonar novamente, sem medo.
Ele, bom, ele precisava provar, na cidade onde morava, que era capaz de fazer uma mulher bonita e bem mais nova que ele (eu era 14 anos mais nova) se apaixonar e mostrá-la para toda a família dele, destroçada por uma traição da ex-esposa, que fez questão de que todos soubessem que ela o havia traído (traição essa como uma vingança por ter sido traída antes, mas nada disso é da minha conta).
Claro que esse é um resumo simplista demais, mas serve.
Ontem sonhei comigo colocando balas em um revólver e me preparando para ir matá-lo. O porque disso não tenho a menor idéia. Acho que porque, na época, enxerguei que o que ele precisava não era o mesmo que eu, que eu me doei e ele não.
Esquisito isso de, no caso dele, eu guardar principalmente o que aconteceu de ruim.
O que ficou de lembranças boas foram eu ter despertado de novo para a vida, a amizade e o apego que o filho dele teve comigo, a aceitação de toda a família dele e, após termos terminado, ele ter acordado para a mulher que perdeu (eu) e ter ficado atrás de mim por dois anos.

Talvez esse sonho, em que eu me preparo para matá-lo, tenha a ver com o meu estado atual, em que me sinto feia e disforme, talvez eu tenha me preparado para matar a minha cobrança de ser bonita, de me sentir feia hoje (na época o que ele mais precisava era de uma mulher bonita para comprovar perante a cidade que, apesar de ter sido traído, era capaz de superar e conquistar uma mulher mais nova e mais bonita que a ex-esposa dele).

Eu não o matei no sonho, eu entrei no carro e fugi quando ele apareceu, eu fugi por uma estrada pobre e escura, e por mais que não o visse, sabia que ele estava vindo me cobrar sobre o porque de eu ter pensando em matá-lo.
Esquisito e cheio de significados.

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