sábado, 2 de julho de 2011

Sábado

Lá pelas 10h30 tomei banho, me arrumei e fui trabalhar. E vesti o meu disfarce de ânimo e simpatia (que eram a minha melhor marca até pouco tempo atrás), hoje, na maior parte do dia, foram sentimento forjados.
Trabalhei, conversei, sorri, e aconteceram coisas interessantes.
Vi clientes sinceramente amistosos e até alegres em falar comigo, e isso foi estranho, foi como se eu estivesse me analisando de fora, como se eu me enxergasse de fora falando com eles.
Minha filha diz que tenho jeito de quem entende e ouve as pessoas. Devo ter mesmo, pois várias e várias vezes já aconteceu de pessoas conhecidas e também desconhecidas abrirem suas vidas para mim e ouvirem o que eu digo, e falam e falam, coisas que eu tenho certeza de que estavam muito bem guardadas, sentimentos e vivências que não se compartilhariam com uma estranha. E quando isso acontece eu dou total atenção à pessoa, eu ouço muito e falo menos, e várias vezes senti que confiaram em mim mas que ao mesmo tempo me sobrecarregaram. Não sei o que fazer sobre isso, ainda não decidi se é ruim ou bom para mim.
Hoje isso aconteceu duas vezes. Numa delas, um cliente antigo da loja conversou um tempo sobre o efeito sanfona, ele mesmo sofreu isso várias vezes. Claro que ele queria me ajudar, mostrar como tinha conseguido, como eu poderia conseguir, e por aí foram-se uns 15 minutos. Tive que mostrar que estava ocupada para ele ir embora.
Outro, um cliente antigo e conhecido por ele e a esposa conversarem comigo, conversou quase meia hora, sorte que já estava quase na hora de eu ter que deixar minha filha na aula extra. E por tudo o que ouvi dele, por vê-lo despertar para a vida, resolvi fazer algo por mim hoje, mesmo que fosse uma coisa mínima, fui à manicure.
Ele veio sozinho e pôs sua vida para mim, assim, completamente aberta. E eu vi um homem de 55 anos acordar de novo para a vida.
Depois de trocentos mil problemas, depois de um longo tempo em que ele e a esposa pareciam ter 90 anos, de tanto pensarem em doença e de tranformarem pequenos problemas em catástrofes (e eu participei disso porque os dois sempre conversavam comigo e eu tentar aconselhar, sem sucesso), finalmente um deles acordou, e ele sofreu uma perda para isso acontecer, a mãe dele faleceu.
A esposa dele continua com 90 anos, presa à limpeza de casa, a deixar tudo impecável e a pensar em doenças, tomara que ela acorde a tempo.
Ele teve a noção da finitude da vida e está sentindo uma imensa vontade de viver, ela ainda está presa, ele tenta fazê-la acordar e não consegue. E sua vontade de que ela acorde é tão grande que ele até me pediu ajuda, me pediu que eu conversasse com ela quando os dois forem na loja.
Esses acontecimentos me ajudaram a não deixar a compulsão tomar conta de mim hoje.
Agora de noitinha meu irmão, que passou o dia pedalando com amigos, chegou em casa atacado, me tratou mal, quis me agredir tratando mal meus cachorros, e isso me fez explodir, senti ira, me levantei e ele achou que eu ia bater nele, o idiota, IDIOTA, agradável na rua e grosseiro em casa. Depois de escutar dos meus pais um sermão, ele (um idiota de quase quarenta anos), bateu na porta do meu quarto e pediu desculpas. A ira me ajudou também, nem que eu morra, pelo menos era o que eu pensava na primeira hora depois da discussão: nem que eu morra e caia estrebuchando de raiva eu vou deixar a porra da compulsão me dominar hoje.
Eu e meu noivo marcamos de nos encontrar, não deu certo. Ambos estamos com monstros demais. Ele que cuide dos dele. Hoje não estou para abrir mão quando acho que estou certa. Não hoje.
O dia não está fácil, mas finalmente está quase chegando a hora de eu ir dormir, e se eu não conseguir, um providencial rivotril me espera, e amanhã verei o que vou conseguindo. Por hoje, apenas por hoje, segurar a compulsão no meio de tantos acontecimentos me ajudou a ficar lúcida.

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