quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Trechos

Estou terminando o livro de Ingrid Betancourt, na época acompanhei de longe e sem me prender àquilo, as reportagens sobre sua libertação.
Porque meu pai ganhou o livro que ela escreveu sobre seus anos de cativeiro, hoje consigo compreender o seu sofrimento e dor, e sobretudo o quão forte ela é.
Quero guardar aqui uns trechos que ficarão em minha memória:

"Alguns fatos são dolorosos demais para ser contados: revelando-os, nós o revivemos de novo. Temos então a esperança de que, com o passar do tempo, a dor desaparecerá, e que em seguida será possível partilhar com outros aquilo que vivemos e nos aliviarmos do peso de nosso próprio silêncio. Mas, volta e meia, quando não há mais sofrimento na lembrança, é por respeito a si mesmo que a gente se cala. Já não sentimos a necessidade de desabafar, e sim a de não arrasar o outro com as lembranças de nossas próprias desgraças. Contar certas coisas é permitir-lhes ficar vivas no espírito dos outros, quando o que afinal nos parece mais conveniente é deixá-las morrer dentro de nós mesmos".

"enquanto a mãe de Marc falava, reconheci a expressão dele, aquela dor da ausência que se transformava em beatitude, aquela necessidade de absorver cada palavra como um alimento essencial, aquela rendição final para mergulhar sem reservas na felicidade efêmera... porque as palavras de uma mãe são mágicas e penetram na nossa intimidade, apesar de nós mesmos".

" - Eu não acredito em Deus.
- Não faz mal. Ele não é suscetível. Pode chamar igual. Se Ele não responder, chame a Virgem Maria, ela sempre está disponível".

"Foi então que ouvi sua voz. Ele estava ali, a poucos metros de mim. Não podia vê-lo, mas o sentia. Era o cheiro dos seus cabelos brancos que eu beijava ao ir embora, toda noite. Estava de pé à minha direita, tão grande, tão sólido como uma daquelas árvores centenárias que me cobriam com suas sombras, tão grande, tão sólido como elas. Olhei em sua direção e uma luz branca me cegou. Fechei os olhos e senti as lágrimas escaparem, rolando devagar em meu rosto. Era sua voz sem palavras. Cumprira sua promessa".

"Voltei mais longe em minhas lembranças, e vi meu pai junto a mim, murmurando em meu ouvido: "Não há silêncio que não termine".
Não foram as perfusões que me curaram. Foram as palavras! Eu reencontrava a mim mesma, no meu jardim secreto, e o mundo que eu vislumbrava pela escotilha de minha indiferença me parecia menos insano".

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